quinta-feira, 4 de outubro de 2007

NEOQEAV

A HISTÓRIA DE N.E.O.Q.E.A.V

Meus avós já estavam casados há mais de 50 anos e continuavam jogando um jogo que haviam iniciado quando começaram a namorar. A regra do jogo era que um tinha que escrever a palavra “NEOQEAV” num lugar inesperado para ser lida pelo outro. Assim que o outro encontrasse a palavra deveria escrevê-la em outro lugar, e assim sucessivamente. E eles se revezavam deixando “NEOQEAV” escrita por toda a casa. Assim que um a encontrava, era a sua vez de escondê-la em outro local para o outro achar. Eles escreviam “NEOQEAV” com os dedos no açúcar dentro do açucareiro, no pote de farinha, na janela embaçada pelo sereno, no vapor deixado no espelho depois de um banho quente, onde a palavra iria reaparecer após o próximo banho. Uma vez a minha avó chegou a desenrolar um rolo inteiro de papel higiênico para escrever “NEOQEAV” na última folha e o enrolou de novo. Não havia limites para eles. Pedacinhos de papel com “NEOQEAV” rabiscado apareciam grudados no volante do carro que eles dividiam, dentro dos sapatos, embaixo dos travesseiros. Era escrita com os dedos na poeira sobre as prateleiras e sobre o carro.
Esta misteriosa palavra fazia parte da casa de meus avós.
Levou bastante tempo para que eu entendesse e gostasse desse jogo que eles jogavam. Meu ceticismo nunca me deixou acreditar em um único e verdadeiro amor, em um sentimento realmente puro e duradouro. Porém, eu nunca duvidei do amor entre meus avós. Era profundo. Era mais do que um jogo de diversão. Era um modo de vida.
Seu relacionamento era baseado em devoção e afeição apaixonadas, as quais poucas pessoas têm a sorte de experimentar.
O meu vovô e a minha vovó ficavam de mãos dadas sempre que podiam.
Roubavam beijos um do outro sempre que se encontravam na cozinha tão pequena. Eles conseguiam terminar a frase incompleta do outro e todo dia resolviam juntos as palavras cruzadas do jornal. Minha avó cochichava para mim dizendo o quanto meu avô era bonito e como havia se tornado um velho charmoso.

Antes de cada refeição eles se reverenciavam e davam graças a Deus pelo alimento e por sermos uma família maravilhosa. Pedia para que continuássemos sempre unidos.
Mas uma nuvem escura surgiu na vida de meus avós. Minha avó contraiu câncer de mama. A doença apareceu cerca de dez anos atrás. Vovô estava com ela a cada momento. Ele a confortava no quarto amarelo que havia pintado para que ela ficasse sempre rodeada da luz do sol, mesmo quando ela não tivesse forças para sair. O câncer agora estava de novo atacando seu corpo.
Com a ajuda de uma bengala e da mão firme do meu avô, eles iam sempre à igreja. Mas minha avó foi ficando cada vez mais fraca, até que, finalmente, não mais pôde sair de casa. Por algum tempo meu avô resolveu ir sozinho à igreja. Lá orava a Deus e pedia orações pela sua esposa.
Certo dia, o que todos nós temíamos aconteceu. Vovó partiu.
“NEOQEAV” foi gravada em amarelo nas fitas cor-de-rosa dos buquês de flores do funeral da vovó.
Quando os amigos começaram a ir embora, minhas tias, tios, primos e outras pessoas da família ficaram ao redor da vovó pela última vez. Vovô ficou bem junto do caixão e em um suspiro bem profundo começou a cantar para ela. Em meio a suas muitas lágrimas e pesar, a música surgiu como uma canção de ninar que vinha bem de dentro do seu ser. Nunca vou esquecer daquele momento. Eu tive o privilégio de testemunhar da beleza sem igual de um verdadeiro amor.

A esta altura você deve estar se perguntando: o que significa “NEOQEAV”?
São as iniciais de uma linda declaração de amor: “Nunca Esqueça O Quanto Eu Amo Você!”



Preguicinha,

Nunca Esqueça O Quanto Eu Amo Você!
Amo demais!!
Você é muito importante pra mim!

Beijos

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